segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Denuncias na UFRJ não me causam “surpresa”


Acho que muitos ficaram indignados com a denúncia do último final de semana, do Ministério Público Federal contra o reitor da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ, Carlos Antônio Levi, e outros dirigentes da instituição por mau uso de dinheiro público. A ação civil por improbidade administrativa se baseia, principalmente, no relatório elaborado por três auditores da Controladoria Geral da União (CGU), que há dois anos começaram a investigar as contas da UFRJ.

Quem não ficou indignado teve no mínimo aquele sentimento de: “já vi esta história antes... Qual a novidade?! Já sei aonde isto irá acabar”! Eu, por minha parte não fiquei nem indignada, nem surpresa! O fato me fez recordar minha época de discente na Universidade Federal de Rondônia – Unir, de 1999 até 2003. Sempre tinha alguma denúncia do DCE – Diretório Acadêmico sobre alguma provável ação irregular da reitoria. Sempre tinha algo de errado no ar, na época estava sendo construído o pavilhão do curso de Direito e as turmas de Letras, tanto Inglês, quanto Português e Espanhol utilizavam provisoriamente estas instalações, no período diurno. O provisório se tornou definitivo, porque conclui o curso no pavilhão de Letras ouvindo a piadinha infame da turma de Direito: Olha só o pessoal das letrinhas, que rapidamente respondíamos: vocês fazem Direito para fazerem direitinho... Coisas de universitários, maduros e cultos...

Muitas coisas me chatearam na vida acadêmica: alguns professores que apontavam a porta de saída quando a turma não correspondia a uma aula e lembrava que havia um monte de pessoas querendo estar ali, sem pagar um centavo. A péssima comida da lanchonete terceirizada que nunca perdia o contrato, apesar das reclamações que fazíamos; as greves, a ausência injustificada de professores, o perigoso transporte coletivo na esburacada BR- 364 sentido Rio Branco (AC).

É claro que existem lembranças maravilhosas desta época. Algumas amizades que persistem até hoje, professores que incentivavam e despertavam o melhor de cada um; o diploma de uma universidade federal que tem seu peso em qualquer lugar do mundo, o aprendizado – é claro! Mas... Sempre tem um, mas, no meio do caminho – fazer o quê?! O caso recente da UFRJ me recordou algo que eu tinha quase esquecido, o prejuízo provocado indiretamente-diretamente pelo Prohacap, no último ano de universidade. O Programa de Habilitação e Capacitação de Professores Leigos ajudou e acredito que ajuda ainda muitos professores que só possuem o Magistério e consequentemente centenas de alunos da rede pública de ensino de Rondônia.

Acho louvável, nada contra a iniciativa. Agora que ela afetou muito meu curso, ah isto afetou. A cada semestre tínhamos dois professores que sumiam duas semanas para o interior do Estado para lecionar no Prohacap. Isto desestimulava as turmas, pois quando isto acontecia ficávamos sem professor em sala de aula, e tínhamos que fazer trabalhos monumentais para cobrir a ausência dele.

Tomei certa antipatia pelo programa quando descobri que alguns professores estavam em pé de guerra para participar dele pelo simples fato de ganhar até três vezes o salário de professor, em apenas duas semanas! Não foi do nada que teve gente que passou de carro popular para caminhonete. Enquanto uns ganharam eu e muitos outros, deste período, perdemos em qualidade de ensino. Passamos quase de ensino regular para supletivo, em algumas matérias de tanto trabalho que fazíamos. Espero que hoje seja diferente e que o programa não tenha servido apenas para proporcionar uma renda a mais para alguns docentes. Espero realmente que os formados pelo Prohacap tenham recebido um ensino de qualidade que muitos da Unir deixaram de ter. Isto já compensaria um pouco, só um pouco.




terça-feira, 13 de novembro de 2012

Então, acabou o sonho ou pesadelo da UHE Belo Monte?!


“O maior canteiro de obras do Brasil, localizado no sítio do Jirau, cidade de Porto Velho em Rondônia, ardeu em chamas no dia 15 de março e em poucas horas virou cinzas. Alojamentos e ônibus foram queimados ou destruídos, além do posto de saúde, de escritórios e do almoxarifado. Um caixa eletrônico do Bradesco saqueado. A destruição do canteiro de obras foi resultado de um levante operário”. Este é um trecho de uma matéria publicada na revista Veja, em 18 de março de 2010. É impossível não fazer menção a este fato que marcou o setor elétrico quando o mesmo aconteceu no último final de semana nos três canteiros de obra da UHE Belo Monte, em Altamira (PA) e com certeza será destaque na mídia nacional.

Tal qual aconteceu nas instalações de Jirau, alojamentos não de madeira como os primeiros, mas de material anti-chamas foram derrubados por veículos pesados manobrados não por motoristas e sim por manifestantes encapuzados. Refeitórios quebrados e saqueados da mesma maneira que escritórios administrativos, lavanderias, lanchonetes de terceirizados... Os trabalhadores que não participavam das depredações tiveram a opção de fugir pela mata ou pelo rio Xingu. Quero lembrar que estamos falando da maior usina em construção do Brasil e a terceira maior do mundo!

O motivo não muito diferente de Jirau foi à negociação salarial que não agradou a todos, como acontece em todo período de dissídio de diversas categorias no Brasil e no mundo. Ao contrário de Jirau, não tem como não correlacionar, os trabalhadores não reclamavam dos alojamentos que são comprovadamente os melhores já construídos em barragem. Até porque em Jirau, durante uma visita do então presidente Lula foi dito: "Isso [ar condicionado nos alojamentos] demonstra que os trabalhadores vão aprendendo a conquistar seus direitos, os empresários vão aprendendo que é importante que, quanto mais conforto, mais os trabalhadores produzem e assim a gente vai mudando a cara do nosso País", disse um otimista Lula.

O problema e que nem mesma a presidente Dilma – especialista no setor elétrico e defensora do Complexo Hidrelétrico do Rio Madeira e de Belo Monte, os representantes dos consórcios que venceram os leilões para construir estes empreendimentos, os governadores, prefeitos e demais autoridades diretamente envolvidas não previram o imprevisível: o comportamento de 25 mil trabalhadores de diferentes escolaridades, religiões e regiões. Melhor dizendo de 50 mil, porque foram 25 mil em Santo Antônio e Jirau – no auge da construção, neste momento em Belo Monte em torno de 10 mil trabalhadores – e em 2013, 25 mil. Quer dizer seriam, afinal neste momento, por minha experiência em barragens posso afirmar que a logística do envio dos trabalhadores de volta para suas casas já que não existe local para abriga-los na obra e nem na cidade de Altamira será tratado como prioridade pelo consórcio responsável pela obra.

No segundo momento entram os planos de contingências que aprendemos nos MBAs. Só devem permanecer nos sítios Belo Monte, Canais e Diques e Pimental – que formaram futuramente a UHE Belo Monte, os trabalhadores responsáveis pela reconstrução da infraestrutura que era tido como 70 por cento resolvidos, antes desta quebradeira. O momento é de cortar custos, não digo com isto que os trabalhadores enviados para casa foram demitidos, eles continuaram a receber seus salários.

Também é necessário voltar à negociação com o sindicato, que por sua vez fica impossibilitado de exigir o impossível. Muito do que destruído não pode ser coberto por seguro. Eu como brasileira fico indignada como muitos deveriam ficar, afinal estamos falando de dinheiro do FGTS que estão sendo aplicados na obra que neste momento é a principal do PAC.

Também sou trabalhadora e humana e não sou alheia aos direitos trabalhistas, mas todos têm conhecimento que reivindicação trabalhista não é sinônimo de depredação, violência física, roubos de equipamentos... Ainda lembro com saudosismo quando a usina Samuel em Rondônia foi construída, apesar da pouca idade não me recordo de atos de violência em canteiros de obras como os que acontecem hoje.

Fico pensando será que a UHE Belo Monte terá o mesmo destino de Jirau que ainda não conseguiu cumprir nenhum prazo do cronograma, por conta do que ocorreu em 2010. Será que o sonho para uns, de ter emprego por 10 anos ou pesadelo para outros, dos alardeados impactos ambientais e sociais também chegou ao fim?! Não é tão simples assim, o que acontecer em Belo Monte afeta e muito todos os brasileiros.

Dos 1.135.607 Gwh de energia produzida, 794.925 Gwh será vendida as 27 distribuidoras de eletricidade espalhadas pelo país, a partir de 2015. No momento resido no centro-oeste, e estou muito preocupada com esta situação agora se eu estivesse no sudeste e nordeste eu não conseguiria dormir. Não é à toa que por estas bandas já começaram os apagões, são estas duas regiões que mais necessitam da energia de Belo Monte.



terça-feira, 6 de novembro de 2012

A vida imortal de todos


Quem não leu o livro: A vida imortal de Henrietta Lacks deveria correr a banca de revista mais próxima e adquirir a obra que já foi best-seller no New York Times e destaque do ano de revistas nacionais. Quem já leu, com certeza fez diversas releituras, pelo mesmo motivo que eu resolvi escrever sobre ele. É impossível não fazer associação da história verídica desta obra com muito de nossa realidade brasileira.

A vida imortal de Henrietta Lacks foi escrito pela jornalista Rebecca Skloot, uma especialista em matérias científicas. Ele resgata a história da HeLa, células desenvolvidas a partir do tecido cervical de Henrietta Lacks. A sigla HeLa é a fusão da iniciais do nome da negra que morreu em 1951, prática comum em pesquisas, mas cuja células são mantidas e cultivadas até hoje em todos os laboratórios do mundo, inclusive no Brasil.

Agora vem a parte interessante. As célular HeLa, cuja reprodução constante ainda é um mistério para ciência foi enviada a Lua, serviu de base para os primeiros trabalhos de clonagem – antes da ovelha Dolly e contribuiu para estudos do câncer, afinal Henrietta faleceu vítima desta doença. O curioso e revoltante é que este valioso material genético foi retirado sem o consentimento da família de Henrietta Lacks que nunca recebeu nenhum dinheiro e nem mesmo um agradecimento formal por ele. Pior ainda é saber que centenas de laboratórios dos EUA, França, Suíça e em muitos outros países ganharam milhões de dólares com a venda da cultura destas mesmas células...

Peguei o livro por acaso no último final de semana em uma livraria em Altamira (PA). Como negra consciente que ou é impossível não deixar de ler este tipo de material, até porque a capa é muito intrigante e uma aula de Marketing a parte. Numa imagem trabalhada em vermelho você vislumbra o rosto sorridente de uma mulher com os braços na cintura em uma pose provocativa. Ela parece ser e estar muito feliz!

Logo nas primeiras páginas comecei a fazer paralelos com o que acontece aqui conosco. Mas como não sou conhecedora do que é praticado em nossos centros de pesquisas – aliás, alguém sabe, parece que a divulgação é bem escassa não é mesmo?! Passei para algo que conheço de vivência, a Amazônia. Quantas espécies nativas de nossa região, riqueza natural, foi e é contrabandeada para outros países. A mais divulgada foi a da empresa japonesa Asahi Foods, que por meio de uma companhia americana patenteou a marca cupuaçu nos Estados Unidos e na União Européia.

Lógico que não tem comparação, ou melhor, dizendo tem sim com a história da Henrietta Lacks no que se trata de um roubo, de um crime que mesmo indenizado não apaga os males provocados. Sem contar que não são poucos os relatos de sangue indígena retirado por grupos internacionais para pesquisas cujos resultados nunca são apresentados. Então vamos combinar uma lida neste livro porque ele realmente consegue ampliar qualquer visão limitada que possamos ter de muitos assuntos.